Titulo: Holocausto Brasileiro:Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes no Maior Hospício do Brasil
Editora: Geração Editorial
Assunto: Comunicação - Jornalismo
Sinopse: Durante décadas, milhares de pacientes foram internados à força, sem diagnóstico de doença mental, num enorme hospício na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. Ali foram torturados, violentados e mortos sem que ninguém se importasse com seu destino. Eram apenas epilépticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, meninas grávidas pelos patrões, mulheres confinadas pelos maridos, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento. Ninguém ouvia seus gritos. Jornalistas famosos, nos anos 60 e 70, fizeram reportagens denunciando os maus tratos. Nenhum deles - como faz agora Daniela Arbex - conseguiu contar a história completa. O que se praticou no Hospício de Barbacena foi um genocídio, com 60 mil mortes.
Um holocausto praticado pelo Estado, com a conivência de médicos, funcionários e da população.
O livro Holocausto Brasileiro é dedicado a contar a história impactante, comovente, assustadora e até revoltante do maior hospício brasileiro e as histórias massacrantes de milhares de homens, mulheres e crianças que perderam a vida num campo de concentração chamado Colônia localizada em Barbacena em Minas Gerais. Assim com uma linguagem muito acessível e cheia de detalhes Daniela Arbex devolve nome, história e restaurar a identidade daqueles que até então eram registrados na história como “ignorados de tal” assim pela narrativa eles retornam e os horrores vividos não são esquecidos ou até mesmo ignorados. Essa é a proposta da obra tirar esses sessenta mil mortos e os poucos sobreviventes da invisibilidade e gerar conscientização dessas barbáries, o livro foi elaborado com entrevistas feitas com funcionários, pacientes do hospício e sobreviventes.
E nesse aspecto de denuncia, o livro cumpre com êxito sua proposta de preservar a memória os horrores e disparates cometidos em boa parte dos manicômios representaram ao longo da história não só no Brasil, mas no mundo. Além de sacudir estruturas o Holocausto Brasileiro é doloroso, quase insuportavelmente angustiante, mas também uma leitura tão necessária para conhecemos às estruturas, mecanismos envolvidos em massacres e como as pessoas reagem a ele, bem como uma leitura que gera mudanças em nossa perspectiva.
É exposto nesse livro o quão miserável pode chegar o caráter humano e muitas das vezes ficamos em estado de choque com a nossa própria realidade, pois aconteceu em nossa nação, demonstrando a nossa própria crueldade e falta de receptividade com a diversidade e o que mais me assombra e que várias pessoas participaram disso durante anos ou até estavam ciente do que aconteciam e resolveram dá as costas para essa barbaridade e essa é a realidade de pessoas que foram excluídas da sociedade, e é isso que ocorre quando não se enquadram em nossos padrões, lá eram internados alcoólatras, mães solteiras, epiléticos, mulheres que foram estupradas, homossexuais, prostitutas, as esposas inconvenientes e até mesmo pessoas que não possuíam nenhum tipo de distúrbio mental ou recebiam diagnóstico adequado. Boa parte dessa gente era simplesmente indesejável para alguém e invisível para a maioria, bastava não se encaixar no padrão estabelecido e até mesmo existiam pessoas que foram internados por engano.
Não bastasse terem tirado a liberdade os internos eles ainda tinha que ser mal tratados, torturados fisicamente e psicologicamente, “tratados com choques elétricos”, ou pior sendo executados com choques elétricos, brutalizados e largados não à própria sorte, não havia roupas e nem alimentos suficientes para todos, assim boa parte do tempo ficavam nus e expostos a todo tipo de doença, ao frio e a fome, e quando tinham leites tinham que beber tudo e como não era possível beber tudo, vários latões eram jogados fora não podendo guardar para outro dia. E para sobreviverem tinham que se alimentar de ratos, e beber água de esgoto ou sua própria urina, e sem comentar que eles viviam em suas próprias fezes em meio à imundice. Nessas condições o índice de mortalidade era muito grande, morreram mais de sessenta mil pessoas dentro deste hospício e tinham pessoas que ainda lucravam com essas mortes vendendo os corpos para pesquisas, alimentando assim um mercado clandestino de venda de corpos para faculdades.
Poucos foram os sobreviventes, que conseguiram resistir a tantas adversidades. E mesmo quando saíram tiveram que aprender tudo e se adaptarem a uma nova realidade, que poucos lá dentro não puderam experimentar que finalmente esses tão sonhados dias melhores chegaram para aqueles que viviam no hospital psiquiátrico.
Traçando paralelos entre os manicômios de passado e os hospitais públicos de hoje com os corredores abarrotados e pacientes morrendo à míngua sem atendimentos a autora de Holocausto Brasileiro traz essa conscientização. E mostra-se consciente com os deveres do jornalismo em denunciar atrocidades e incentivar o pensamento crítico se desvencilhando das reportagens sensacionalista de coisas fúteis que impossibilitam o nosso real exercício da cidadania.
Assim podemos concluir que a indignação que a leitura desse livro provoca é de não está inerte e dar as costas e jamais compactuar para que lugares como a Colônia não possam existir novamente.